por Diego Bagagal em Setembro de 2006.
O tema da peça “Lilimão” do “Grupo Tentando...” é um tema bastante em voga, trata-se de dois irmãos do morro, aliás do Lilimorro, que são obrigados pelo pai a vender Lilimão nas ruas para ajudar no sustento da casa, como toda criança eles querem brincar, sonhar e dessa forma transformam a rua em uma misteriosa ilha, onde as referências de seu mundo são trazidas á tona a partir de metáforas oníricas.
Tudo começou há três anos, Diego Portugal e Thaís Inácio decidiram pesquisar o teatro infanto-juvenil. Existia uma vontade de se buscar um outro lugar no teatro, sem maniqueísmos e preconceitos à cerca desse público frente a uma obra de arte, para isso vasculharam livros que falam do referido público no teatro, como “A linguagem no teatro infantil” de Marco Camarotti , ‘ Nos bastidores do teatro infantil” de Zanilda Gonçalves, e o fundamental ‘No Reino da Desigualdade” de Maria Lúcia de Souza, e foi percebido a falta de entrega e dedicação da arte teatral a esse público, e com isso a pouca ousadia e experimentação. A pesquisa teórica tinha o intuito de criar uma sinopse e argumentos para assim, a partir de improvisações em texto e ação um “roteiro-peça” para enfim uma experimentação prática com o público. Um conhecimento especial que as referências teóricas tiveram em comum, e que os amparou durante todo este anseio, é que a criança lida com a expressão artística com maior liberdade, pois ela se entrega a fruição do jogo e do lúdico, junto a essa conclusão Diego e Thaís se lançaram à prática com liberdade de criação e expressão.
No final de 2004 a partir da pesquisa teórica, improvisações e opiniões de pessoas de fora como amigos, artistas e professores (neste ano Diego Portugal o 1° Ato Centro de Dança e Thaís Inácio cursava o Teatro Universitário/ UFMG) chegaram a um primeiro resultado, o “roteiro-peça” estava pronto. No final de 2005 os únicos dois integrantes se viram “prontos” para a sonhada, dura e angustiante experimentação prática, sem alguém no posto de diretor e orientador, Diego Portugal, no início de 2006, assumiu esse papel e junto com Thaís convidaram Lucas Ferreira e Henrique Brener para compor o time de jovens experimentadores. Iniciaram a busca por uma linguagem a partir das proposições de todos, as referências eram norteadas pela relação da criança/adolescente e a sociedade de consumo e alienação.
O processo de montagem tinha como meta a desconstrução do entendimento racional e epistemológica para encontrar o público infanto-juvenil por um caminho, digamos, menos “cerebral”, no sentido de racional e mais corporal e sensorial, ou seja, o importante não é entender aristotelicamente e sim sentir, fruir junto aos artistas/propositores. Para isso o grupo pesquisou cheiros, imagens e sons, através de música, barulhos e ruídos hoje executada ao vivo pela nova integrante Camilla Borges.
A busca por uma proposição aberta, sócio-política e midiática contou também com a criação de uma nova língua, o Lilimoês, que possui referências da brincadeira da língua do “P” e, principalmente, da sensação do menino de rua em vender num sinal e se sentir um estrangeiro na própria nação. E projeções em vídeo, buscando além da base teatral que é o ator, a proposição vídeo artística que compõe e comunica junto com os outros elementos pesquisados.
De fato o Grupo Tentando... é contestado pela densidade do tema e da abordagem para as crianças, com argumentos que despontencializam os atributos cognitivos, emocionais e sociais das crianças, talvez pelas referências atuais da arte feita por esse público. Para o Grupo, hoje o adulto propositor artístico esquece que a criança lida com a expressão lúdica com maior liberdade, desconsiderando suas experiências e desvalorizando seu universo simbólico, exercendo assim seu poder sonegando ou decidindo a qualidade do produto cultural que a criança irá desfrutar, e, muitas vezes, com objetivos unicamente comerciais, sem o respeito e dedicação necessária para esse público tratado com desigualdade no cenário teatral.