...crítica

Crítica

Publicada no Jornal Estado de Minas - Caderno EM Cultura - Janeiro de 2006

NO PALCO
Experiência diferente

Janaina Cunha Melo

A proposta do grupo Tentando é ousada. Em cartaz na 33ª Campanha de Popularização Teatro e Dança com o espetáculo Lilimão nos finais de semana na Casa do Conde Funarte, os artistas oferecem linguagem experimental para crianças e reúnem na mesma peça momentos de drama, comédia e sarcasmo. Surpresa para os pais conservadores, que relutam assistir de pé a introdução e estranham a falta da linearidade convencional do enredo. As crianças, de várias idades, fazem menos objeção. Exploram os vários ambientes do espaço alternativo e se permitem experimentar a proposta. Sentam nas almofadas, cadeiras e não demonstram incômodo ao assistir o início do espetáculo circulando pelo galpão.


O texto, de autoria do diretor Diego Portugal (que agora assina Diego Bagagal), em parceria com Thaís Inácio, parte da história duas crianças, Emelinda e Creordiley, que vendem limões nas ruas de uma metropóle. Os meninos falam idioma em que a letra l se multiplica nas palavras. A idéia, que diverte o público, deixa alguns momentos com falas incompreensíveis, mas não compromete o entendimento da história. Das ruas as crianças partem para uma aventura numa ilha e fazem grandes descobertas. Entre elas, o Sol, a Chuva e a Madame Lua, personagens que aparecem acompanhados de questionamentos sobre a infância e revelam dúvidas e os sentimentos típicos dessa idade.


Alguns momentos da trama são complexos, o que faz do espetáculo uma experiência diferente, para pais e filhos. Propõe idéias elaboradas e sugere discussão depois do entretenimento. Trabalho e aventura em dose dupla para as crianças e seus acompanhantes. A companhia, nesse sentido, subverte a ordem. Com iniciativa corajosa, nada comercial, reforça a possibilidade de o teatro infantil estimular a pesquisa de nova formas e linguagens para a aparentemente simples arte de contar histórias. Além de explorar vários ambientes, o elenco brinca com diferentes objetos e apresenta recursos alternativos para cenários, figurino, sonoplastia e interação de suportes com áudio e vídeo. A proposta torna o fazer cênico menos ritualístico e mais próximo da realidade do espectador; semeia idéias que podem ser levadas pra casa como o início de outras experimentos.